Antes de dizer qualquer coisa, sei que a cultura
pop/nerd/geek é machista. O espaço dado ao público feminino é pífio sem falar
que no curso da história existiram muito poucas heroínas com destaque.
Os tempos mudam, a indústria estava percebendo isso e
começou a abrir o espaço para elas como vemos em filmes como Mad Max – Estrada
da fúria, Star Wars – O despertar da Força, As novas Caça Fantasmas e Jogos
Vorazes (baseado em um livro).
O bom é que temos mulheres como protagonistas e com atitude,
vence as diversidades sozinhas sem precisar de homem algum, até chegam a
salvá-los dos perigos.
Mas para isso tudo, as mulheres tem que se sentir
representadas e não parecerem meros enfeites nas histórias ou objetos sexuais.
Com a ajuda das redes sociais, elas ganham vozes (nem sempre
de mulheres) e apontam o que está errado com relação da imagem da mulher tanto
no cinema, na TV e nos quadrinhos. Isto começou a gerar debates da retratação
feminina dentro do universo ficcional.
Se está tudo certo, então
por que estou tão preocupado com isso?
Antes de responder, vou deixar uma coisa clara: Gosto e faço
heroínas sensuais, ponto.
O que me preocupa é até onde isso vai chegar. Em qual
momento meu trabalho se tornará proibido e rechaçado ao ponto de apenas um
decote aparecendo seja algo extremamente ruim.
Ou quando mostrar um vilão, vilão mesmo, batendo numa
heroína ou fazendo algo pior fosse cortado das histórias para não impressionar
o público (mesmo se forem ditos adultos).
Mas a indústria tem o direito de censurar coisas que não são
de acordo com sua política, é correto. Mas me remeteu a outro caso que
aconteceu nos anos 50 que foi endossado por parte do público e minha
preocupação é que isto se repita numa nova versão escondida num direito
autêntico de representatividade.
Ainda acham que exagero em minhas preocupações? Vejam a
imagem da Mulher Aranha do artista Milo Manara, um artista conhecido por
desenhar mulheres sensuais, convidado a desenhar uma simples capa da
heroína. Foi fortemente criticado por
errar anatomia e principalmente, por ser apelativo.
Para piorar minha “paranoia” vi mudança de capas de revistas
por causa de uniforme sensual e a mudança de vestimenta de personagens consideradas
sensuais e clássicas.
Num caso recente, o artista Frank Cho reclamou que houve uma
espécie “censura” de sua arte numa capa VARIANTE da Mulher Maravilha (veja a
imagem no topo). O roteirista da revista, Greg Rucka, considerou a imagem VULGAR
e que MOSTRAVA MUITO A PELE. Frank Cho não poderia ter exposto esse problema,
mas podia haver uma melhor diplomacia, enfim.
Achei que realmente fosse algo apelativo, mas ao ver a
imagem original demorei alguns segundos para perceber o que era “vulgar”.
Ouvi opiniões diversas, quando expus esse assunto. Disseram
que é assim mesmo, é a mudança dos tempos. Até criticam artistas que retratam
mulheres de forma apelativa acusando de estar ridicularizando a mulher.
Esse ponto me deixa ainda mais inquieto. “Vilanizar” o
artista por que ele gosta de desenhar mulheres de forma sensual que não se
aplica a realidade que tanto gostamos de colocar na ficção mostra como parte do
público polemiza o que realmente não lhe agrada, mesmo se for algo que
facilmente possa ser ignorado.
Não é porque gosto de fazer uma personagem seminua que eu
quero desrespeitar todas as mulheres do mundo. Não é porque faço cenas de sexo
com elas, que eu quero domina-las ou coloca-las em seu devido lugar. Não é
porque desenho mulheres fisicamente atraentes eu despreze e recrimine as que
não são.
E não sou desses homens imbecis que ficam falando coisas
ruins sobre haver mais heroínas no meio do entretenimento.
Para pessoas como eu, mulheres são como deusas vivas, é a
nossa visão. Se gostamos de sexo, qual o problema disso?
As grandes editoras e seguimentos do público querem fazer
sua nova política para agregar um público mais diverso, tudo bem. Eu aprovo.
Se querem deixar a Supergirl, Batgirl e a Miss Marvel de
formas comportadas, também aprovo e acho adorável. Mas por favor, deixem a
Powergirl em paz! A personagem pode ser sensual, mas não desprovida de uma
personalidade forte e interessante.
Há espaço para tudo e
se quisermos essa tal de diversidade, devemos realmente pôr em prática.
Apesar de tudo isso que eu disse, por enquanto está tudo bem
no cenário atual. Mas, quando leio sobre esse assunto, fico preocupado mesmo,
pois isto me atinge como criador e artista, mesmo sendo iniciante e
independente.
Como disse antes, gosto de ver e desenhar mulheres sensuais
e quero fazer isto em paz no futuro.
Um comentário:
Gostei do texto.
Também sou contra a objetificação exagerada da mulher. Mas, esse moralismo massacrante atual parece ditatorial.
Isso tem ocorrido também no Japão, onde os "fetiches" são ainda mais pesados.
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