sábado, 30 de julho de 2016

O movimento “heroínas sem decote” e o porquê isto me preocupa



Antes de dizer qualquer coisa, sei que a cultura pop/nerd/geek é machista. O espaço dado ao público feminino é pífio sem falar que no curso da história existiram muito poucas heroínas com destaque.

Os tempos mudam, a indústria estava percebendo isso e começou a abrir o espaço para elas como vemos em filmes como Mad Max – Estrada da fúria, Star Wars – O despertar da Força, As novas Caça Fantasmas e Jogos Vorazes (baseado em um livro).

O bom é que temos mulheres como protagonistas e com atitude, vence as diversidades sozinhas sem precisar de homem algum, até chegam a salvá-los dos perigos.

Mas para isso tudo, as mulheres tem que se sentir representadas e não parecerem meros enfeites nas histórias ou objetos sexuais.

Com a ajuda das redes sociais, elas ganham vozes (nem sempre de mulheres) e apontam o que está errado com relação da imagem da mulher tanto no cinema, na TV e nos quadrinhos. Isto começou a gerar debates da retratação feminina dentro do universo ficcional.

 Se está tudo certo, então por que estou tão preocupado com isso?

Antes de responder, vou deixar uma coisa clara: Gosto e faço heroínas sensuais, ponto.  

O que me preocupa é até onde isso vai chegar. Em qual momento meu trabalho se tornará proibido e rechaçado ao ponto de apenas um decote aparecendo seja algo extremamente ruim.
Ou quando mostrar um vilão, vilão mesmo, batendo numa heroína ou fazendo algo pior fosse cortado das histórias para não impressionar o público (mesmo se forem ditos adultos).

Mas a indústria tem o direito de censurar coisas que não são de acordo com sua política, é correto. Mas me remeteu a outro caso que aconteceu nos anos 50 que foi endossado por parte do público e minha preocupação é que isto se repita numa nova versão escondida num direito autêntico de representatividade.

Ainda acham que exagero em minhas preocupações? Vejam a imagem da Mulher Aranha do artista Milo Manara, um artista conhecido por desenhar mulheres sensuais, convidado a desenhar uma simples capa da heroína.  Foi fortemente criticado por errar anatomia e principalmente, por ser apelativo.

Para piorar minha “paranoia” vi mudança de capas de revistas por causa de uniforme sensual e a mudança de vestimenta de personagens consideradas sensuais e clássicas.

Num caso recente, o artista Frank Cho reclamou que houve uma espécie “censura” de sua arte numa capa VARIANTE da Mulher Maravilha (veja a imagem no topo). O roteirista da revista, Greg Rucka, considerou a imagem VULGAR e que MOSTRAVA MUITO A PELE. Frank Cho não poderia ter exposto esse problema, mas podia haver uma melhor diplomacia, enfim. 

Achei que realmente fosse algo apelativo, mas ao ver a imagem original demorei alguns segundos para perceber o que era “vulgar”.

Ouvi opiniões diversas, quando expus esse assunto. Disseram que é assim mesmo, é a mudança dos tempos. Até criticam artistas que retratam mulheres de forma apelativa acusando de estar ridicularizando a mulher.

Esse ponto me deixa ainda mais inquieto. “Vilanizar” o artista por que ele gosta de desenhar mulheres de forma sensual que não se aplica a realidade que tanto gostamos de colocar na ficção mostra como parte do público polemiza o que realmente não lhe agrada, mesmo se for algo que facilmente possa ser ignorado.

Não é porque gosto de fazer uma personagem seminua que eu quero desrespeitar todas as mulheres do mundo. Não é porque faço cenas de sexo com elas, que eu quero domina-las ou coloca-las em seu devido lugar. Não é porque desenho mulheres fisicamente atraentes eu despreze e recrimine as que não são.

E não sou desses homens imbecis que ficam falando coisas ruins sobre haver mais heroínas no meio do entretenimento.

Para pessoas como eu, mulheres são como deusas vivas, é a nossa visão. Se gostamos de sexo, qual o problema disso?  
  
As grandes editoras e seguimentos do público querem fazer sua nova política para agregar um público mais diverso, tudo bem. Eu aprovo.

Se querem deixar a Supergirl, Batgirl e a Miss Marvel de formas comportadas, também aprovo e acho adorável. Mas por favor, deixem a Powergirl em paz! A personagem pode ser sensual, mas não desprovida de uma personalidade forte e interessante.

 Há espaço para tudo e se quisermos essa tal de diversidade, devemos realmente pôr em prática. 

Apesar de tudo isso que eu disse, por enquanto está tudo bem no cenário atual. Mas, quando leio sobre esse assunto, fico preocupado mesmo, pois isto me atinge como criador e artista, mesmo sendo iniciante e independente. 
  
Como disse antes, gosto de ver e desenhar mulheres sensuais e quero fazer isto em paz no futuro.

Um comentário:

Anderson ANDF disse...

Gostei do texto.
Também sou contra a objetificação exagerada da mulher. Mas, esse moralismo massacrante atual parece ditatorial.
Isso tem ocorrido também no Japão, onde os "fetiches" são ainda mais pesados.